Quem É Essa Mulher? (2024) | Crítica

Em sua estreia, Mariana Jaspe falha em dar alma à sua história, e acaba por entregar documentário genérico

Em seu longa de estreia, Mariana Jaspe escolhe acompanhar a historiadora Mayara em sua pesquisa em torno da primeira médica negra do Brasil, Maria Odília Teixeira. Infelizmente é um começo ruim para a diretora. Quem é Essa Mulher? tenta de todos as formas se levar a sério e ser um bom documentário, mas só consegue entregar algo, no máximo, no nível de uma reportagem de noticiário de TV local.

Os planos ensaiados, as falas que soam declamadas pois provavelmente foram decoradas, a ausência de alma de seus personagens. Tudo culmina num filme pobre e sem alma. A melhor coisa do filme é o filho centenário de Odília, que apresenta consciência clara, um domínio absoluto das palavras e um carisma invejável. Mas é muito mal aproveitado, assim como a própria Mayara, sua mãe e seu companheiro. Todos parecem robôs frente à câmera.

Na tentativa de dar um coração para a história, Jaspe se esforça para introduzir uma paralelização entre a trajetória de Maria Odília e Mayara. Assim como os outros elementos do longa, este é mais um que cai por terra e não funciona, além de ficar forçado e sem conseguir gerar qualquer grau de conexão do público com isso. Maria Odília é filha de um médico renomado com uma ex-escrava alforriada. Por mais que fosse uma mulher preta vivendo no ínicio do século XX, o fato de seu pai ser renomado e ter dinheiro facilitou boa parte de sua caminhada até se tornar médica. Enquanto isso Mayara é uma baiana, também preta, mas de família pobre. É a primeira de sua família a iniciar e concluir uma graduação, e conseguiu isso a duras penas. As semelhanças aqui são poucas, e a diretora pareceu escolher isso como base fundamental para a história. Uma base fraca enfraquece todo o resto.

Depois de seus curtas Carne (2018) e Deixa (2023), que demonstraram inspiração e uma vontade de fazer algo diferente, Quem É Essa Mulher? parece um passo atrás na carreira de Mariana Jaspe, que parece engessada e podada de todas as formas.

Este filme esteve presente na mostra Competitiva Nacional do 13º Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba, no ano de 2024.